Sócio Pergunta, Sócio Responde

Metodologia transversal/laboratorial

Qual sua opinião sobre artigos com metodologia transversal/laboratorial em resultados na associação entre fatores oclusas e DTM?

O Sócio Pergunta
José Luiz Peixoto

Qual sua opinião sobre artigos com metodologia transversal/laboratorial em resultados na associação entre fatores oclusas e DTM?
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O Sócio Responde

Ricardo Aranha

É digno de nota que o cerne do tema desses estudos já foi discutido no passado em artigos semelhantes e com conclusões semelhantes. Resgatando cuidadosamente a história da DTM e da oclusão, vemos um grupo de estudos replicando, em uma visão prática, estes objetivos, métodos e resultados, seja com desenhos observacionais ou não.1,2 

Empregar coroas protéticas altas experimentais em animais como ratos (que é uma das limitações evidentes destes artigos, seja no passado ou no presente) implica uma liberação natural de substâncias nociceptivas e transformação neural. Estas são consequências esperadas de uma mudança significativa e abrupta no esquema oclusal, nunca negada, mas distante da clínica da DTM humana crônica, também do contexto do estudo da etiologia e das terapias baseadas em evidências para DTM.3,4,5 Adicionalmente, a variação oclusal - que se fosse implementada em um humano adulto equivaleria a uma pequena “pedra” entre os arcos dentários – obviamente cria nocicepção dentária e sua neuroplasticidade, o que seria um fator de confusão ou mediação importante, mas isso praticamente não é citado. 

Na outra ponta, estudos transversais, como os clássicos levados a cabo na década de noventa do século passado, eventualmente encontram associação para determinados fatores oclusais estáticos ou funcionais (como diferença de MIH para RC, mordida aberta ou mordida cruzada unilateral, etc) e sinais e sintomas de DTM. Aqui vale lembrar a máxima (sempre esquecida) de que associação não significa necessariamente causa-efeito. Diversas variáveis que potencialmente interferem no processo não são devidamente contempladas (uma delas é a socioeconômica). Da mesma forma, considerações sobre a magnitude do efeito e outros índices estatísticos não o são, também a importância clínica dos resultados (diagnósticos clinicamente questionáveis como deslocamentos de disco sem sintomatologia e as antigas “osteoartroses” de ATM figuram entre os mais prevalentes).    

O fato de os autores recentes ou mesmo de revisores dos periódicos em questão não enfatizarem essas observações históricas clínicas e metodológicas tangíveis e relevantes (o que é contrário, muitas vezes, ao que faziam os pesquisadores do passado) reflete o espaço geral insuficiente dedicado à área da dor orofacial e disfunção temporomandibular, seja em programas informativos ou de graduação ou de pós-graduação, levando a uma matriz de informações pouco debatida e a condutas indefensáveis no âmbito clínico.


REFERÊNCIAS:

1 -Seligman DA, Pullinger AG. The role of functional occlusal relationships in temporomandibular disorders: a review. J Craniomandib Disord. 1991;5(4):265-279.

2 - Xie Q, Li X, Xu X. The difficult relationship between occlusal interferences and temporomandibular disorder - insights from animal and human experimental studies. J Oral Rehabil. 2013;40(4):279-295. doi:10.1111/joor.12034 

3 - Le Bell Y, Jämsä T, Korri S, Niemi PM, Alanen P. Effect of artificial occlusal interferences depends on previous experience of temporomandibular disorders. Acta Odontol Scand. 2002;60(4):219-222. doi:10.1080/000163502760147981

4 - Manfredini, D., Lombardo, L. and Siciliani, G. (2017), Temporomandibular disorders and dental occlusion. A systematic review of association studies: end of an era?. J Oral Rehabil, 44: 908-923. https://doi.org/10.1111/joor.12531

5 - Greene CS, Kusiak JW, Cowley T, Cowley AW Jr. Recently Released Report by Major Scientific Academy Proposes Significant Changes in Understanding and Managing Temporomandibular Disorders [published online ahead of print, 2021 Jun 12]. J Oral Maxillofac Surg. 2021;S0278-2391(21)00547-4. doi:10.1016/j.joms.2021.06.010
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