Sócio Pergunta, Sócio Responde

Fármacos neuromodulares

Por que usar fármacos neuromodulares no controle das dores crônicas?

O Sócio Pergunta
Oscar Anacleto, Mococa – SP
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O Sócio Responde

Paulo Conti - Sócio fundador e ex-presidente da SBDOF

Dores Crônicas são aquelas que persistem por mais de três meses e são sentidas em pelo menos 50% do tempo pelo paciente. É uma condição clínica que sabidamente interfere diretamente na qualidade de vida do indivíduo, e estima-se que seja responsável por grande parte dos afastamentos do trabalho no mundo todo, gerando grandes perdas em todos os níveis.

Alterações comportamentais, emocionais e psicológicas (como ansiedade, depressão e catastrofização) sempre foram relatadas como coexistentes nesses pacientes. Porém, já há algum tempo é extensamente relatada na literatura médica e odontológica a presença de alterações neuronais, tanto no Sistema Nervoso Periférico (SNP) quanto no Sistema Nervoso Central (SNC) nesses pacientes. Isso significa que neurônios responsáveis pela condução dos estímulos nociceptivos ao SNC tornam-se hiperativos e com sua excitabilidade exacerbada, havendo a diminuição do limiar de disparo da despolarização. Todos esses fenômenos fazem com que estímulos inócuos sejam transmitidos ao SNC como se fossem nóxios, levando a ocorrência do fenômeno de dor persistente. Também, são muito bem descritas alterações em neurônios centrais, aqueles que captam as mensagens da periferia e as transmitem a centros superiores, em um processo conhecido como Sensibilização (neuronal) Central, comum a diversas condições crônicas incluindo as Disfunções Temporomandibulares (DTM) e outras Dores Orofaciais (como a Neuropatia Dolorosa Pós-traumática).

Os fármacos neuromoduladores, também conhecidos como anticonvulsivantes ou estabilizadores de membrana, fazem parte de um grupo de fármacos utilizados primariamente para o controle de crises convulsivas e distúrbios psiquiátricos, entre outros. Entre os principais fármacos dessa classe encontram-se o Topiramato, o Ácido Valpróico e a Gabapentina.

O seu uso como coadjuvantes na terapia de pacientes que apresentam Dor Crônica (em conjunto com diversas outras modalidades terapêuticas) tem como objetivo diminuir a excitabilidade neuronal por meio, principalmente, do bloqueio de canais de cálcio da membrana celular do neurônio. Isto levará à diminuição da comunicação neuronal permitindo ao sistema retornar às suas funções de captação e de transmissão de estímulos de maneira normal. Eles são normalmente utilizados em doses mais baixas do que aquelas utilizadas para suas finalidades específicas (por ex., tratamento de doenças psiquiátricas) e por períodos mais longos que outros fármacos (por ex., AINE ou relaxantes musculares), que pode variar de semanas a meses.

Quando decidimos por seu uso é necessário estar sempre atento e monitorar possíveis efeitos colaterais, entre eles sedação excessiva, alterações de humor, cognição ou apetite. Ainda, deve-se sempre iniciar o tratamento com doses mais baixas e aumentar progressivamente de acordo com a resposta terapêutica ou até se atingir o limite ditado pela frequência e intensidade dos efeitos colaterais.
 
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