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Eu recomendo: Livro Factfulness - por Dr. Ricardo Aranha

Seguindo a mesma linha do best-seller "Rápido e Devagar - duas formas de pensar", de autoria do Prêmio Nobel de Economia Daniel Kahneman, obra que aborda os erros cognitivos a que somos levados no dia a dia e seu potencial de interferência com a política e a economia, tem destaque o livro "Factfulness," do médico e estatístico sueco Hans Rosling (falecido em 2017). 

O título é uma corruptela de "mindfulness", sem uma tradução oficial no inglês, mas que sinaliza para algo como "ter opiniões baseadas em fatos." O autor construiu sua carreira lutando contra concepções erradas sobre as mais variadas questões que afetam a humanidade (como a limitada e dicotomizada divisão de mundo entre países "desenvolvidos e em desenvolvimento"). Palestrante requisitado, correu o mundo testando esses vieses mentais, e mesmo em ambientes sofisticados da academia, verificou que, para perguntas simples como “onde vive a maioria da população mundial,” segundo a faixa de renda baixa, média ou alta dos países, o nível geral de acerto era menor do que o esperado para escolhas aleatórias (menor seria então, segundo o autor, do que um chimpanzé acumularia). A propósito, a maioria das pessoas vive em países de renda média.

Contrariando o senso comum que tende a um pessimismo rotineiro e recorrente, demonstra que em várias circunstâncias a humanidade tem, sim, melhorado (mesmo considerando o período em que o livro foi escrito que não abrangeu a Pandemia de Covid-19). O problema é que somos levados a erros de inferência o tempo todo e que passamos para frente e reforçamos; a culpa então seria de "impulsos" naturais de medo, de imaginar a evolução de fenômenos como uma linha reta ascendente, da dicotomia do pensamento ou de não contextualizar fatos individuais. Diante disso, assume que somente a consciência dos erros, o treinamento e observação constante de nossos próximos passos e conclusões poderia remediar - e isso é possível, segundo o autor. 

O livro assume também um estilo bem-humorado que torna a estatística por trás dos variados temas bem mais atraente. Nada mais necessário e inspirador em tempos nos quais a divulgação científica para o público leigo ou das universidades vem sendo debatida: que nível de consciência teríamos, por exemplo, sobre o que é a ciência, suas possibilidades e suas limitações, e por que discuti-la a fundo? O trabalho original do pesquisador sueco, levado à frente por seu filho Ola Rosling e sua nora Anna Rosling (co-autores do livro), derivou de uma ferramenta utilizada pela gigante Google para a elaboração dos chamados gráficos-bolha. 

Em uma era de efervescência de dados e informações caóticas, das fake news, big data, machine learning (e o que mais vier por aí), nada mais necessário e reconfortante do que uma obra direcionada à distinção rotineira entre a ilusão e a realidade.

Autoria: Dr. Ricardo Aranha
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